Lucro na Plantação

Quantas Variáveis Variando Violentamente no Agro

Nosso resumo mensal traz os eventos principais de novembro e o que observar em dezembro. Para a OCDE, a economia global avança 4,20% em 2021 e 3,70% em 2022, superando a queda de 4,2% no fatídico 2020. EUA caem 3,7% neste ano e crescem 3,5% em 2022. Por fim, a Europa cai 7,50% este ano, crescendo 3,60% em 2021 e 3,30% em 2022. A China neste ano cresce 1,8% e 8% em 2021. Está em ritmo acelerado se recuperando da crise provocada pelo coronavírus. A produção industrial do país cresceu 6,9% no mês de outubro frente ao mesmo período do ano passado, enquanto que as vendas do varejo foram 4,3% superiores. A comercialização de veículos também aumentou 12,5%. De acordo com o indicador da OMC, o comércio global de bens se recuperou no terceiro trimestre de 2020, atingindo 100,7 pontos, contra os 84,5 registrados no mês de agosto. No entanto, a organização projeta desaceleração no quarto trimestre, visto a possiblidade de novos lockdowns com incidência de uma segunda onda de infecções por Covid-19. 

Na economia brasileira, o relatório Focus (Bacen) de 30 de novembro traz expectativas para o IPCA de 2020 em 3,54% e de 2021 em 3,47%. O PIB deve fechar este ano em -4,50% e crescer 3,45% em 2021. Já para taxa Selic, se esperam 2,00% e 3,00%, respectivamente, e no câmbio, R$ 5,36 no final de 2020 e 5,20 no final 2021. A boa notícia é que no Brasil o PIB do terceiro trimestre cresceu 7,7%, o que deve reduzir um pouco mais a taxa de queda no PIB deste ano, podendo ficar entre -4 a -4,5%. O Ministério da Economia estima que o déficit primário para 2020 será de R$ 844,57 bilhões, valor inferior aos R$ 861 bilhões considerados em setembro. Quedas nas despesas obrigatórias e aumento nas receitas, via arrecadações de impostos corroboram para esse novo cenário. 

Preocupa muito o crescimento das contaminações novamente no Brasil, e os impactos que isto pode trazer. Outro ponto importante na economia que afeta o agro é a taxa de câmbio, e o dólar vem se desvalorizando.

No Agro Mundial e Brasileiro…No Brasil, o IPEA revisou sua estimativa de crescimento para o PIB agropecuário de 2020 de 1,9% em outubro para 1,5% em novembro, dessa forma o valor adicionado pelas lavouras deve crescer 3,8%, já o da pecuária cair 2,0%. Já para 2021, o PIB do setor deve crescer 1,2%.

O MAPA divulgou a estimativa para o Valor Bruto da Produção (VPB) para o ano de 2021 em R$ 949,2 bilhões, 11,9% superior que o projetado para este ano (R$ 848,6 bilhões), sendo impulsionado pelas culturas de soja, milho, arroz e as carnes. Segundo a CNA, o Produto Interno Bruto (PIB) do agro cresce 3% em 2021, e o Valor Bruto da Produção Agropecuária (VBP) cresce 4,2%. Neste ano a estimativa é de 9% para o PIB e 17,4% no VBP.

O boletim da Conab de novembro revela que o Brasil deverá produzir 268,9 milhões de toneladas de grãos na temporada 2020/21, 4,6% a mais que na anterior, enquanto que a área plantada deve aumentar 1,8%, chegando a 67,1 milhões de hectares. Na soja, espera-se colheita de 135 milhões de toneladas (+8,1%), em 38,3 milhões de hectares cultivados. Já no milho, com uma área total plantada de 18,4 milhões de hectares (-0,5%), a colheita deve totalizar 105 milhões de toneladas (+2,3%). Finalmente, para o algodão, são esperadas 2,74 milhões de toneladas de pluma (-8,8%) com redução da área plantada em 5,8%.

Em outubro as exportações do agronegócio somaram US$ 8,18 bilhões, redução de 6,2% frente ao mesmo mês do ano anterior, de acordo com estatísticas do MAPA. As carnes lideraram as exportações com US$ 1,62 bilhão (-9,7%), desbancando a o complexo soja, o qual teve recuo significativo de 39% no mês, vendendo US$ 1,44 bilhão. Mesmo nas carnes, a suína foi a única a crescer em exportações (+24,7%), atingindo o recorde de US$ 198,25 milhões para o mês. Na terceira posição aparece o setor sucroenergético, com o açúcar representando 87% do total de vendas de US$ 1,38 bilhão. Produtos florestais ficaram em quarto com US$ 1,03 bilhão (+8,0%); e em quinto aparecem os cereais, farinhas e preparações totalizando US$ 931,75 (-10,2%). Na contrapartida, as importações do setor totalizaram US$ 1,2 bilhão (-0,2%), deixando um superávit na balança comercial de 6,98 bilhões (-6,2%). 

O Rabobank estima que as exportações brasileiras de carne suína devam subir 6% em 2021, chegando a 1,2 milhões de toneladas. Já a produção nacional deve ser de 4,2 milhões, crescimento de 2,5%. 

No café, os embarques para exterior atingiram recorde para mês de outubro, com 4,1 milhões de sacas, o que equivale a um aumento de 11,5% frente ao mesmo mês de 2019, segundo dados do Cecafé. Em termos de receita foram atingidos US$ 509,6 milhões, 8,5% a mais.

Na cadeia da carne bovina, a arroba em R$ 270 com exportações batendo recordes. Impressionante os preços do bezerro (70% acima em um ano), chegando a R$ 2.300/animal.

O USDA reduziu novamente a previsão para a safra norte-americana de soja e milho do ciclo 2020/21. Devem produzir 113,49 milhões de toneladas da oleaginosa, enquanto que no milho são esperadas 368,5 milhões de toneladas. Para o Brasil, as estimativas apontam produção de 133 milhões e 110 milhões de toneladas, respectivamente.  A oferta de milho dos EUA para o ciclo 2020/21 deve totalizar 419,8 milhões de toneladas, 4,1% a mais que na safra anterior, em uma área cultivada de aproximadamente 36,8 milhões de hectares. É fato que os EUA estão exportando bastante agora, a demanda por etanol de milho voltou a se normalizar e os estoques estão mais baixos. Como a soja brasileira chegará ao mercado um pouco mais tarde, a janela aberta aos EUA ficou maior.

A Argentina deve produzir 16,7 milhões de toneladas de trigo no ciclo 2020/21, menor valor nos último cinco anos, em virtude do clima seco, de acordo com a Bolsa de Grãos de Rosário. Na soja e milho, as chuvas recentes favoreceram a semeadura, com projeções de produção de 50 e 48 milhões de toneladas, respectivamente.

O Rabobank estima que os preços internacionais da soja devem se sustentar na casa dos US$ 12,00 a 12,40 por bushel na Bolsa de Chicago em 2021, motivados pelos baixos estoque americanos e intensa demanda chinesa (devem importam 100 milhões de toneladas). O banco holandês projeta a safra de soja brasileira em 130 milhões de toneladas para o ciclo, enquanto que na Argentina devem ser produzidas 50 milhões de toneladas.  No milho, a instituição projeta uma safra brasileira de 107,2 milhões de toneladas, com exportações em torno de 36 milhões de toneladas;

A demanda seguirá firme, temos a recuperação do plantel de suínos na China e ainda temos que analisar o que acontecerá nos outros países, como Vietnam. O setor de proteínas (carnes, leite, ovos, entre outros) sofreu muito em 2020 com os preços das rações devido à valorização dos grãos. Fora isto, acredita-se que a produção de milho da China deve cair de 260 para 250 milhões de toneladas, e os estoques são os mais baixos em 4 anos.

No algodão, o ICAC projeta produção mundial no ciclo 2020/21 de 25 milhões de toneladas e consumo de 24,4 milhões. O Brasil deve ser segundo maior exportador com 1,76 milhões de toneladas. A demanda vem voltando após os efeitos do COVID no consumo de têxteis

No mercado global de suco de laranja, entre março a outubro, os norte-americanos adquiriram 1,1 bilhão de litros nas redes de varejo, 22% a mais que no mesmo período de 2019. No Brasil, o consumo aumentou 20%, o que também foi observado em países europeus e asiáticos.

De acordo com a StoneX, as compras de fertilizantes para o ano que vem seguem em ritmo acelerado. No total, cerca de 48% do volume esperado para o 1° semestre já fora comercializado e, para o segundo semestre, as vendas já chegam à 24% do total.

Nos três primeiros meses da safra 2020/21 da laranja (jul-set), o setor gerou 10.554 postos de trabalho, de acordo com dados do Caged compilados pela CitrusBr, respondendo por 8,9% do total de vagas geradas no país.

No mercado de crédito, os produtores rurais já contrataram R$ 92,6 bilhões para a safra 2020/21, o que representa quase 40% dos recursos disponíveis no Plano Safra. Os valores de julho a outubro são 21% superiores aos contatados no mesmo período do ano passado.

A indústria de máquinas e equipamentos vendeu R$ 14,6 bilhões no mês de outubro, valor 16% superior ao mesmo período de 2019. No somatório do ano, o setor já comercializou R$ 113,9 bilhões, 0,7% a mais que no ano anterior, de acordo com as estatísticas da Abimaq.

A Abiove estima que o setor de biodiesel fechará o ano produzindo 6,4 bilhões de litros do combustível, o que equivale a um crescimento de 8,5% em relação ao ano anterior. Com isso, o Brasil deve sustentar a terceira posição no ranking global.

Sobre empresas, vale destacar algumas novidades. A Nestlé concluiu a aquisição da Freshly, startup de delivery de refeições saudáveis semiprontas localizada nos EUA, por US$ 1,5 bilhão. Aposta no novo negócio em território americano, o qual já é responsável por comercializar 1 milhão de refeições por semana em 48 estados, e com previsão de venda de US$ 430 milhões em 2020. O McDonald’s também passou a apostar no negócio de plant-based. A rede de franquias irá testar uma linha de produtos McPlant com substitutos da carne e de frango, à base de vegetais, em parceria com a Beyond Meat.

Ainda na visão de sustentabilidade, estudo realizado pela UFG revela recuperação de 26,8 milhões de hectares de pastagens degradadas em propriedades brasileiras entre os anos de 2010 e 2018. O número é superior à meta de 15 milhões de hectares, estabelecida no Plano ABC.

A JBS anunciou planos de dobrar a capacidade produtiva da Seara até 2024. Além disso, a empresa irá inaugurar uma unidade industrial de carne suína no Missouri, EUA, em 2021, com capacidade de processar 11 mil toneladas por ano.

O ano de 2020 termina como ano da explosão do uso do digital, dos “marketplaces”, aplicativos e outros. Grande aprendizado dos produtores para uso das tecnologias “on line”. Outro impacto que fica de 2020 são os maiores custos de controles nas cadeias produtivas, questões sanitárias e outras.

A relação China x EUA é outra das grandes variáveis para 2021. Em 2020 muitos impactos também ocorreram devido aos atritos entre os gigantes.

A grande preocupação também com o clima e o provável atraso com a segunda safra de milho e os índices de replantios necessários para a safra de soja.

E concluímos novembro com a manutenção de incríveis preços… No fechamento desta coluna para entregar em cooperativa de São Paulo, a soja estava em R$ 162/saca e da safra 2020/21 já sendo negociada a R$ 134/saca. Há um ano estava em R$ 82/saca. No caso do milho, R$54/saca e, para entregas em agosto de 2022, R$ 46/saca. Há um ano o milho estava em R$ 40/saca. No boi, a arroba era negociada a quase R$ 270. Estes preços devem se manter nos próximos meses.

Os cinco fatos do agro para acompanhar agora diariamente em dezembro são:

  1. As chuvas no Brasil e o andamento da safra. Previsões do clima para a safra 2020/21 de grãos é, de longe, a principal variável não apenas no Brasil, mas para o mundo observar;
  2. Importações da China nas carnes e grãos e também dos outros países asiáticos e os impactos nos preços das rações no mercado interno;
  3. As expectativas de uma segunda onda de contaminações no Brasil e se teremos alguma restrição de deslocamentos e consumo, além do impacto de um provável fim do apoio que foi dado (“coronavoucher”);
  4. Os resultados das eleições dos EUA e os impactos no agro do Brasil;
  5. A questão da inflação dos alimentos no Brasil e os danos à imagem do setor junto aos consumidores finais até que a produção da nova safra apareça.

Marcos Fava Neves é Professor Titular (em tempo parcial) das Faculdades de Administração da USP em Ribeirão Preto e da EAESP/FGV em São Paulo, especialista em planejamento estratégico do agronegócio. Confira textos, vídeos e outros materiais no site doutoragro.com

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